Será mesmo?
Por Valter dos Santos
Estava sozinho na mata
Na mata fechada com os animais
Tinha árvores e muito Mais
E Deus eu acho…. Fiz fogo de tanto medo
Estrelas eu olhava
As vezes subia na árvore
Minha cama era árvore…
Será que estava sozinho
Em meio a tantas coisas
Deus era mesmo verdade
Se Nei o conhecia
Mas na verdade
Meu ser maior era
Árvore
Animais
Água
Terra
Acho que era esse o Deus….
(Texto de uma conversa entre Valter e um senhor Kaingang que ficou perdido na mata e com medo, falando que a mata é Deus).
Primeiro escrito do projeto
PARAQUEDAS COLORIDOS
(por Paula Nascimento).
Das ruas vazias queria escutar
Aquilo que não ouço mesmo ao me calar
Cheias, no entanto, voltaram a estar
Barulhos das buzinas, motores, impaciências filas e, poucas máscaras ainda, displicências
Acreditei por instantes que o solidário suportaria o difícil viver solitário
Que cresceríamos juntos, ainda que distantes
E que as redes virtuais nos transformariam em humanos amorosos, ainda que mutantes
Doce ilusão, acreditar que o topo do Himalaia reaparecido
Seria sim sinal de um viver ressignificado, um existir renascido
Me preparei inocentemente para a queda coletiva
Construir paraquedas, quem diria?
Mas me dei de frente com a realidade
Essa de natureza acachapante e que nos rouba repetidamente a criatividade
Podemos, nós, faltantes, faltosos, sofridos e abandonados inventar um existir mais colorido, quiçá, prazeroso?
Dizem-me amigos, colegas e desconhecidos, gentes de toda parte: há sim, desde que seja aqui em ato, em harmonia com a ancestralidade e, com a Terra, respeitoso.
Como participar?
O Projeto Paraquedas Coloridos reúne a produção de escritos, numa perspectiva livre e coletiva.
Para participar basta enviar seu escrito aqui, com nome real ou fictício. Seu texto será publicado em nosso site e instagram.
Nosso objetivo é estimular a escrita inventiva neste momento de pandemia.
Acesse nossas redes. Instagram @paraquedascoloridos. Site: www.paraquedascoloridos.ararangua.ufsc.br
Por que Paraquedas Coloridos?
Vivemos dias do fim. O encerramento de ciclos, sejam eles pequenos como nossas breves existências, ou extensos como a vida do planeta ou do universo, trazem como principal característica um balanço. Nos demos conta do fim quando lembramos do início, quando avaliamos como foi o percurso e quando tentamos tirar conclusões da jornada. Por isso vivemos dias do fim. Muito tem se dito, que após a crise da Covid19 passar, não seremos mais os mesmos. Nossas vidas já mudadas não voltarão ao que eram antes e que a vida terrena também não será mais a mesma. Vivemos nesse momento um queda vertiginosa diante de tudo que nos era habitual, conhecido, de tudo que chamávamos de cotidiano.
De modo visionário, Ailton Krenak, indígena, escritor e ambientalista brasileiro em seu livro entitulado “Ideias para adiar o fim do mundo” já nos alertava sobre a necessidade de reinventarmos o nosso modo de viver na Terra e reconsiderarmos nosso conceito de humanidade. Krenak afirma que o uso exploratório dos recursos ambientais e o distanciamento dos valores ancestrais a favor do desenvolvimento econômico, tecnológico e científico nos distanciou da felicidade, agora entendida a partir do consumo desenfreado de objetos, coisas, animais, pessoas. Para o autor viramos bebês demandantes de uma teta que nos alimenta ininterruptamente, a Terra, e que a qualquer sinal da retirada desse alimento nos coloca diante do fim do mundo. Criamos disputas de toda ordem para manter a teta e, assim, criamos abismos entre nós, já não somos mais uma humanidade. Krenak então interroga o leitor se os abismos já estão colocados e se a queda é inevitável (até porque já caímos tantas vezes em tantas partes do mundo) como ressignificar o existir humano na Terra? Como reinventar a palavra humanidade?
Perguntaríamos: como viver a queda imposta por essa pandemia inédita para nós?
Inspirados na resposta de Krenak, apostamos também na criação de paraquedas coloridos. Invenções coletivas, formas de viver pautadas na fruição do aqui e do agora, em harmonia com nossa ancestralidade, alimentados pela vivência amorosa com a Terra, nossa grande mãe, essa que nos faz ser quem somos, essa que somos nós.
Olá, mundo!
Somos um projeto de extensão ligado ao Laboratório de Humanidades da UFSC Araranguá e queremos estimular a escrita inventiva de estudantes, servidores e comunidade externa.
Ajude a divulgar a ideia! Siga nosso Instagram: @paraquedascoloridos